terça-feira, fevereiro 12, 2008

Nas sombras do passado...

Sempre falei que nasci na época errada. O passado me fascina mais que o próprio e o desconhecido futuro. Em meus olhos, as coisas que gosto eram melhores no passado. Não sei se é o magnetismo de algo que jamais poderei alcançar, ou se realmente meus pais e avós tiveram mais sorte que eu.
Tudo no passado parecia ser mais agradável. E tenho provas disso. O saudosismo em que minha mãe fala da sua infância, ou de quando minha avó era menina e tomava banho de cachoeira. Essas coisas eu nunca tive. Uma liberdade limpa, saudável e sem maldade.

Mas tem uma coisa que eu desejaria mais do que tudo ter visto ao vivo e a cores: o futebol da época do meu avô. O futebol dos olhos quase cegos, porém, perfeitos de Nelson Rodrigues. Gostaria de ter vibrado no Maracanã com o “escrete” brasileiro. Gostaria de ter visto as pernas tortas de Garrincha, a magia do Rei Pelé.
E não adianta falar de Kaká e Ronaldinho! Esses me entediam! A seleção já não é mais a mesma, a seleção já não mais desperta o mesmo furor.
O futebol é o legado do brasileiro... E, tenho certeza que nosso povo jamais deixará de amar. Mas o tempo passou e amor mudou um pouco.

Como sou uma amante do passado já li e reli periódicos, livros e crônicas daquela época tão distante, pude visualizar a clara diferença do futebol das antigas para os dias de hoje.
E nossa... Que magia! Ao ler, eu me imaginava vivendo aquilo tudo. Os dribles fantásticos, ver o suor escorrendo pela camisa amarela com paixão e devoção.
O jogador era fiel. Para ele, não importava a conta do banco. Para ele importava o topo do mundo. O que dizer do Maracanazo de 50, e nos anos seguintes, a luta ferrenha pelo orgulho ferido?
A preparação para o sonho abalado... O primeiro caneco do mundo. Bellini o capitão, levanta pela primeira vez a mais do que justa Taça do Mundo.

Os técnicos do “escrete” eram impávidos guerreiros que não deixavam se assombrar pela massacrante cobrança do povo.
A prepotência insignificante de “Leão”, “Luxemburgos” não tinham vez. A seleção tinha que ser comandada por um guerreiro quase imortal, porque agüentar a cobrança de milhões de brasileiros a cada esquina, era para poucos. O técnico podia até ser um carniceiro... Mas este possuía uma ética e orgulho próprio hoje quase inexistente no futebol brasileiro.
E os jogadores da seleção? Eram gigantes perseguidos e eternamente cobrados por um povo brasileiro descrente e pessimista. E esse jogo de provar a imensidão do futebol brasileiro me encantou. E a magistral seleção de 1970, que fora ao México perseguida e desacreditada? Somente eles acreditavam no Tri. E foram lá e trouxeram o caneco. Naquela época a preocupação dos jogadores era fazer bonito, ganhar dando show e convencer ao mundo e principalmente ao pessimista povo brasileiro, o que era o futebol da seleção canarinho. Até hoje o México lembra aquela seleção de 70.

Agora, em pleno século XXI, o que me encanta é a foto amarelada das pernas tortas de Garrincha, a seleção imortalizada de 62 e até o olhar triste e desolado daquele distante ano de 1950, quando o Uruguai adiou o sonho mundial.

Hoje a gente espera a próxima Copa desconfiados como sempre... Mas uma desconfiança ruim. Não adianta! Não existe mais Garrinchas, Pelés, Rivelinos...
O que existe é um Ronaldinho Gaúcho que jamais senti dar amor a seleção, um Kaká que veste a amarelinha sem brilho... Grandes jogadores, claro. Mas apenas sombras dos mágicos imortais do passado...

Encerro aqui com um coração apertado de não ter tido a sorte de viver em outra época... Encerro aqui com uma nostalgia tremenda e sonhando quem sabe um dia, poder sentir pela seleção o que sinto ao ver as páginas amareladas do jornal velho, enxergar através do tempo, a alegria daquele vitorioso escrete descrito por Nelson...



Lívia Albernaz

2 comentários:

Anônimo disse...

Belíssimo texto. E realmente, relembrar as épocas áureas de nosso futebol e pensar que hoje não temos mais a mesma beleza...é triste.

Anônimo disse...

livinha...
atualize isso aqui minha linda!